Por que homens "héteros" fazem sexo com outros homens para alimentar sua masculinidade é um mistério para muita gente, mas não para eles.
Há muito presumimos que um homem "hétero" pode se envolver em interações sexuais com outros do mesmo sexo em circunstâncias incomuns, como uma demonstração de dinâmica de poder na prisão, em uma gangue ou em uma fraternidade. Ou pode ser um ato "acidental" enquanto ele está chapado ou bêbado, ou um meio de gozar simplesmente, ou para cumprir um desafio ou brincadeira. Mais caridosamente, pode ser um presente ou um favor a um amigo "bissexual" ou "gay".
Vários anos atrás, a psicóloga Jane Ward nos apresentou ao "dude-sex"¹: sexo entre homens brancos, masculinos e "heterossexuais" em contextos urbanos ou militares com o objetivo de construir e reforçar sua masculinidade. O escritor Graham Gremore elaborou:
"Ao entender sua prática sexual com pessoas do mesmo sexo como sem sentido, acidental ou mesmo necessária, homens brancos 'heterossexuais' podem realizar contato homossexual de maneiras heterossexuais... Ward argumenta que a verdadeira razão pela qual os homens 'héteros' se comportam dessa maneira é 'reafirmar em vez de desafiar seu gênero e identidade racial' e 'alavancar a branquitude e a masculinidade para autenticar sua heterossexualidade no contexto do sexo com homens'. Em outras palavras: eles fazem isso para provar que não são 'gays'."
O que Ward não aborda é se esses homens "héteros" são realmente "héteros" ou têm alguma outra orientação sexual — como "principalmente héteros", "bissexuais" ou "gays" em negação/ocultação. Ela está interessada em cultura, não em realidades biológicas.
Em termos de "bud-sex"¹, Tony Silva — que há alguns anos escreveu sua dissertação sobre homens "héteros" rurais que fazem sexo uns com os outros — propôs que tanto o objetivo quanto a consequência do bud-sex é reforçar sua masculinidade e heterossexualidade. Ele entrevistou 19 homens de uma zona rural nos Estados Unidos que faziam bud-sex, e eles deram vários motivos, incluindo "ajudar um amigo", aliviar impulsos, aliviar necessidades sexuais gerais e agir de acordo com suas atrações sexuais. Bud-sex consolidava sua masculinidade e heterossexualidade rural e os distinguia de outros homens que fazem sexo com homens. Para Silva, os resultados "demonstram a flexibilidade da heterossexualidade masculina e a centralidade da heterossexualidade para a masculinidade rural normativa". Para esses homens, o sexo com outros do mesmo sexo é compatível com a heterossexualidade: "Não são as práticas sexuais em si, mas as interpretações individuais delas que são centrais para a identidade sexual e de gênero". Para parceiros, os homens preferiam "sexo secreto e não romântico com outros do mesmo sexo" e tinham encontros de uma vez só e amizades sexuais masculinas regulares.
Em uma troca de e-mail, o psicólogo especialista em sexo, sexualidade e romance Ritch C. Savin-Williams perguntou a Tony Silva por que ele pesquisa bud-sex. Ele explicou: "Eu acho que bud-sex é interessante porque demonstra que existem muitas populações diferentes de homens que fazem sexo com homens. Esses caras são diferentes dos homens que se identificam como 'bissexuais', 'gays', 'principalmente gays' e 'principalmente héteros'. Eles se alinham fortemente com a identificação 'heterossexual' e a cultura 'hétero', e suas interpretações complicadas de suas práticas sexuais reforçam isso." Além disso, a pesquisa destaca uma distinção crítica que raramente é reconhecida pelos pesquisadores entre orientação sexual e identidade sexual: "Meus participantes experimentam uma ampla variedade de desejos, fantasias e atrações sexuais, e diferentes histórias sexuais, mas todos fazem sexo com homens e se identificam como 'héteros'. Para eles, 'hétero' refere-se mais à sua identificação com as instituições heterossexuais convencionais, como o casamento convencional e a cultura 'hétero' de forma mais ampla. Suas narrativas mostram como práticas sexuais semelhantes carregam significados diferentes através de contextos e populações".
Eu não poderia concordar mais. Os contrastes que Silva faz entre identidade e orientação e os vários significados que o mesmo comportamento tem para os indivíduos foram bem ilustrados pelos homens jovens "principalmente héteros" que Savin-Williams já entrevistou. Quando esse homem entretinha ou tinha relações sexuais com outro homem, desde que fosse o homem certo ou a circunstância certa, não era para solidificar sua masculinidade ou sua heterossexualidade — na verdade, quase o oposto em ambos os casos — mas sim uma expressão de sua orientação sexual. e, ocasionalmente, sua identidade sexual. "Principalmente hétero" é menos sobre dude-sex ou bud-sex e mais sobre quem eles são como indivíduos sexuais e românticos.
Moral da história: homens são consideravelmente mais fluidos e complexos em sua sexualidade do que podemos imaginar.
1. Dude-sex ("sexo entre caras": sexo entre homens héteros em geral) ou bud-sex ("sexo entre parças": sexo entre homens héteros que se consideram amigos) podem ser mais ou menos traduzidos para o português como "broderagem" (sexo entre homens [amigos] que não se consideram homossexuais), embora broderagem tenha um pouco mais a ver com bud-sex, já que a palavra deriva do inglês brother, "irmão" (aqui com sentido de "amigo").
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